Elela - Primeiro Capítulo



CENA 1 - Empresa de Ayrton / Exterior - Tarde

Vista panorâmica dos arredores da Empresa Durvalina, numa rua chique da Barra.

CENA 2 - Empresa de Ayrton / Escritório - Tarde

Ayrton chega no escritório de seus funcionários, anda pelo corredor, rindo com seu sobrinho, Eriberto.

Eriberto: Lembra aquele dia que o Eleutério derrubou o sorvete no chão, no meio do parque? Todo mundo rindo dele, ele começou a chorar....

Ayrton: Ah, eu lembro... Xinguei a mãe de meio mundo juvenil aquele dia... Deu muita pena dele! E pensar que os amiguinhos dele foram todos fazer pós-graduação lá fora, e ele ficou aqui, nesse Brasil.

Eriberto: Ah, mas vice-presidente de uma empresa renomada de publicidade no Rio de Janeiro, até que tá mais ou menos!

Ayrton: Ah, meu filho... O problema é que seu primo é incompetente...

Eriberto e Ayrton param de andar, já no fim do corredor. Eriberto olha e dá uma piscadinha para Monique, que prepara o logotipo de um amaciante em pó. Eriberto volta a olhar para o tio.

Eriberto: Ah, tio... Eu não acho... O Eleutério até que tem o valor dele aqui!

Ayrton: Sim! Não tô falando disso. O Eleutério é um funcionário excelente! Mas como pessoa ele é muito... Sei lá! Ele é... Arrogante.... Prepotente... Meio machista!

Eriberto: Isso é verdade!

Ayrton: Culpa é da convivência dele com o seu pai... Olavinho era completamente misógino!

Eriberto: Que Deus o tenha...

Ayrton: Amém. Faz quanto tempo já? 5 anos?

Eriberto: 6, quase 7...

Ayrton: Caraca, o tempo passa rápido... Na minha época, Caetano Veloso era modinha, acredita?!

Eriberto: Sério? Mas ele é tão renomado hoje em dia! Eu, sempre que posso tô ouvindo!

Ayrton: Também... Mas deixe lá, a gente tá flauteando muito hoje, menino... Prepara pra mim um relatório dos clientes que a gente atendeu esse mês, por favor...

Eriberto: Claro, deixa só eu ir no bebedouro, que deu uma sede...

Ayrton: Tá bom, engraçadinho, vai lá...

Ayrton entra na sala dele. Eriberto caminha até o bebedouro.

Eriberto: Caaaaara! Esse velho batatão acredita em tudo... E ainda fica falando do meu pai...

CENA 3 - Empresa de Ayrton / Sala de Eleutério - Noite

Eleutério está debruçado, com forte dores de cabeça, em sua mesa. Ayrton entra na sala.

Ayrton: Filho?

Eleutério: Oi pai, que foi?

Ayrton: O turno acabou...

Eleutério: Nove e quinze? Já?

Ayrton: Passou 2 minutos já... Eu que perdi a hora...

Eleutério: Pede pra alguém consertar o meu relógio daqui?

Ayrton: O seu IPhone 7 não tem relógio?

Eleutério: O Brutus mordeu, quebrou o cristal líquido da tela... Não funciona mais!

Ayrton: Cristal o quê?

Eleutério: Deixa quieto!

Ayrton: Tá bom

Eleutério levanta de sua cadeira, e coloca seu casaco. Começa a trovejar.

Ayrton: Ih, caceta...

Eleutério: Putz... Vai cair um toró...

Ayrton: Olha, nunca vi um cachorro dar tanto trabalho quanto esse seu tal de Brutus...

Eleutério: Tadinho... Não tem nem 2 meses que eu achei ele na rua. Ele deve ter uns cinco, seis, sete meses...

Ayrton: Entendi...

Eleutério e Ayrton saem da sala, e fecham a porta.

(dia seguinte)



CENA 4 - Apartamento de Eleutério / Quarto - Manhã

Eleutério está dormindo. Dão oito horas da manhã, o despertador toca. Brutus começa a latir. Eleutério acorda, senta na cama e reza.

Eleutério: Pai Nosso, que estás no céu. Santificado seja o Vosso nome...

CENA 5 - Apartamento de Eleutério / Sala de estar - Dia

Eleutério prepara o slogan para o amaciante em pó

Eleutério: E aí, Brutinhus? O slogan do amaciante, deve ser: "amacia sua vida e deixa seu dia mais cheiroso" ou "48 horas cheirosas e com sensação de algodão"?

Brutus late uma vez, e lambe a mão esquerda de Eleutério

Eleutério: A primeira é melhor mesmo, né? "48" limita tanto o produto! 

Eleutério digita o slogan no computador.

Eleutério: Preciso de um slogan reserva... Que tal: "O mundo não é só flores, mas com Amaciante Materna, vai ser só algodões"?

CENA 6 - Empresa de Ayrton / Entrada - Horário do almoço

Eleutério entra na Empresa Durvalina, e bate o ponto.

Eleutério: Bom dia, Camilo! 

Camilo: Opa, bom dia, seu Eleutério...

Eleutério anda até Samanta, que está varrendo o chão. Ele dá um tapa em suas nádegas

Samanta: AI! Caramba, Dr. Eleutério!

Eleutério: Bom dia pra você também, Samanta!

Samanta: Ah, bom dia!

Samanta apoia sua vassoura na parede, e cruza os braços.

Samanta: Sabe que que eu vou fazer? Eu vou comer... Ah, mas eu vou comer... Vou comer, vou ficar tão gorda, mas tão gorda, que tu nunca mais tu vai encostar na minha bunda!

Eleutério: Eu vou começar a te chamar de JAmanta... Sabe, Samanta... Pra uma faxineira, acho você até eloquente?

Samanta: Sou nada de louca, desse negócio aí que tu falou não... Deixa eu voltar pro meu serviço!

Samanta pega a vassoura, Eleutério pega o elevador.

Samanta: AAAAAAAAAAAH, eu hein! É falta de banho, vai tomar banho, Eleutério!

CENA 7 - Empresa de Ayton / Elevador - Horário do almoço

Eleutério começa a assobiar dentro do elevador. O elevador abre. Entra Rodrigo.

Eleutério: Bom dia, Rodrigo.

Rodrigo olha o relógio, são 13:13 da tarde

Rodrigo: Tarde, já, Eleutério... Há muito tempo!

Eleutério: Sério? Caraca! Nem percebi... Tô sem telefone não uso relógio...

O elevador chega. Eleutério e Rodrigo saltam.

CENA 8 - Empresa de Ayton / Escritório - Horário do almoço

Rodrigo e Eleutério caminham enquanto conversam

Eleutério: ... Aí meu rádio do carro tá ruim, não sei porque, e como o meu relógio do carro tá no horário de verão, eu nem consulto ele!

Rodrigo: Sim, mas hoje você chegou mais tarde, né?

Eleutério: Sim, meu pai pediu pra chegar 12:50 ao invés de 11:50, mas meu dia foi tão bom, que eu nem notei...

Rodrigo: Conseguiu fazer o slogan?

Eleutério: Consegui fazer dois...

Eleutério e Rodrigo param de andar

Rodrigo: Cê é fera mesmo, hein bicho!

Eleutério: Valeu! Tu é o único que eu deixaria colocarem no meu lugar!

Rodrigo: Nossa, obrigado! Eu entendo cada vez mais porque você é meu melhor amigo...

Eriberto se põe à frente de ambos, nada contente

Eriberto: Atrasado, Eleutério?

Eleutério: Boa tarde pra você também, Eriberto! 

Eriberto: POR QUE VOCÊ ATRASOU, ELEUTÉRIO?

Eleutério: Porque meu pai pediu, ora pois... Logo você, que é a cachorrinha dele? Tá no cio e perde uma informação dessas? Sabia não, priminho?

Eriberto aponta o dedo na cara de Eleutério.

Eleutério: Tira esse dedo da minha cara, cara!

Eriberto: Era pra você chegar 12:50... Vê que horas são aí, Rodrigo!

Rodrigo vê o relógio. Marcam 13:17. Eriberto tira o dedo da cara de Eleutério e olha para Rodrigo.

Rodrigo: 13:05?

Eriberto: 13:17, Rodrigo! 13:17! Não acoberta seu amiguinho não, porque depois a cadelinha no cio sou eu! Quase 30 minutos de atraso! Isso é um absurdo! 

Rodrigo tenta sair de fininho, mas Eriberto vê.

Eriberto: Pode ficando aí, capacho! Por que você foi até o terceiro andar, sendo que o seu andar é aqui, ó! Sétimo andar?

Rodrigo: Fui resolver uns negócios lá com o marketing da esponja que eles tão desenvolvendo...

Ayrton sai do elevador, e caminha em direção a Eleutério, Eriberto e Rodrigo.

Ayrton: Que que tá acontecendo aqui?!

Eriberto: O Eleutério tá meia hora atrasado! São quase 13:20, e isso é um DESCASO com a empresa!

Ayrton: Chega, Eriberto! Isso é o de menos, tempestade em copo d'água com 30 anos no meio da cara, já é infantil!

Eleutério: Chupa que é de uva, Erivelton!

Eriberto: NÃO ME CHAMA ASSIM, SEU ASQUEROSO.

Ayrton: Em primeiro lugar, quero que os dois parem já com esse vocabulário chulo... Segundo...

Eleutério/Eriberto: O Vasco!

Ayrton: Pelo menos, em uma coisa vocês concordam... Mas não! Eleutério, essa sua MANIA de passar a mão no corpo das funcionárias vai te dar problemas. Eu quero que você pare!

Eriberto: "Chupa que é de uva"

Ayrton: Depois a gente conversa, Eriberto. Sai um instantinho!

Eriberto olha pra Rodrigo

Eriberto: Confirma o que o Rodrigo falou, do negócio do terceiro andar?

Ayrton: Confirmo, agora sai!

Eriberto vai para a sala dele...

Ayrton: Eleutério, é meu último aviso... O que eu te dei, eu posso te tirar!

Ayrton vai para sua sala, e bate a porta com raiva.

Rodrigo: Eu sou vascaíno, pô...

Eleutério: Tadinho!

CENA 9 - Empresa de Ayton / Salão Nobre - Noite

Ayrton sobe ao palanque, leva com ele um homem misterioso, cego. Eleutério se senta entre Rodrigo e Monique.

Ayrton: Boa noite a todos

Funcionários: Boa noite!

Ayrton: Esse homem aqui, vocês não conhecem, muito provavelmente... Ele se chama Conrado. Ele trabalha no terceiro andar! Ou melhor, trabalhaVA. Necessitávamos secretamente de um novo funcionário...

Eriberto, acena positivamente com a cabeça, como sinal de entendimento, Eleutério o vê, e não entende a situação. Eleutério cutuca Rodrigo.

Eleutério: Como assim funcionário novo, não tô entendendo, que que tá acontecendo aqui...

Rodrigo: E-eu sei tanto quanto você, Eleutério, pelo visto... Não te contaram?

Eleutério nega com a cabeça

Eleutério: Mas pelo visto, pro Eriberto...

Ayrton dá uma tossida durante o discurso

Ayrton: Desculpe... Retomando!

Eriberto: Que mico...

Eleutério: Rodrigo, me segura, eu vou homicidar esse moleque!

Ayrton: O Conrado é um funcionário genial pra todos os padrões que eu conheça, de toda a minha vivência. O que eu peço a vocês, queridos proletários? Eu peço que tenham um pouco de paciência para Conrado, se inserir ao meio de vocês. Porque o Conrado é cego, mas isso não pode o diminuir decorrente dos seis longos anos que ele dedica a essa empresa. Aplausos para o novo promovido da Empresa Durvalina!!!

Muitos aplausos, exceto da parte de Eleutério, encucado

Ayrton: Gostaria de dizer algumas palavras, Conrado?

Conrado: Não...

Ayrton: Só um pouco!

Ayrton entrega o microfone a Conrado

Conrado: "Algumas palavras, Conrado?".

Todos gargalham muito, exceto Eleutério. Conrado sai apressado do salão nobre.

Eleutério: MAS ISSO NEM TEVE GRAÇA!

CENA 10 - Empresa de Ayton / Escritório - Noite

Eleutério anda a passos firmes, em direção à sala de Ayrton. Rodrigo o segue, preocupado

Rodrigo: Você não vai fazer nenhuma besteira, não, né?

Eleutério: Não sei... Eu não tô puro! Nada vai me impedir de tirar isso a limpo! Que palhaçada é essa? Não me fala nada!

Eleutério para de andar

Eleutério: Só a vontade de fazer xixi...

Eleutério corre pro banheiro

CENA 11 - Empresa de Ayton / Banheiro - Noite

Eleutério corre para a cabine do banheiro. Ele tira o cinto e se prepara para arriar a calça, mas é interrompido por vozes familiares, da cabine ao lado.

Eriberto (sussurrando): O que você tinha me dito mesmo?

Ayrton (sussurando): Bem, como você sabe... O Eleutério anda se comportando meio mal ultimamente, assediando as funcionárias, chegando atrasado... Eu não posso demitir ele, porque ele é um ótimo funcionário, tá sempre inovando...

Eriberto (sussurrando): Sim, sim...

Ayrton (sussurrando): Mas não posso dar um posto da magnitude que tem uma vice-presidência...

Eriberto: E o que o senhor sugere?

Ayrton (sussurrando): SHHHHHH. Fala baixo, menino! Eu, Ayrton, sugiro que você assuma o posto de vice-presidente da Empresa Durvalina

Eleutério coloca o cinto

Eleutério: COMO É QUE É?

Eleutério abre a cabine do banheiro. Eriberto e Ayrton abrem a cabine onde estavam

Eleutério: Vocês tão de sacanagem com a minha cara?

Ayrton: Filho...

Eriberto: Ah, oi priminho! Tudo bom contigo? Eu e tio, a gente tava conversando sobre um... Projeto....

Eleutério: CALA A BOCA

Eleutério dá um soco na cara de Eriberto. Eriberto cai, bate a cabeça na quina da cabine do banheiro. Bate a cabeça no chão e desmaia, em meio a sangue

Ayrton: NÃO

Eleutério: Nossa

Eleutério bota a mão na cabeça. Ayrton verifica o pulso de Eriberto...

Ayrton: Ele... Tá... Vivo...

Ayrton suspira e levanta

Ayrton: ELEUTÉRIOOOOOOOOOOO

CONGELAMENTO EM AYRTON

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